Reportagem disponível em:
http://www.institutoaqualung.com.br/info_agua_pressao50.html
A Indústria da Água
A água é um recurso renovável pelo ciclo natural de evaporação-chuva e
distribuído na superfície terrestre. Mas a intervenção humana tem afetado de
forma dramática esse sistema de renovação dos recursos hídricos. Em certos
lugares, como no oeste dos Estados Unidos, norte da China e boa parte da Índia,
esse líquido fundamental para a existência e manutenção de qualquer tipo de
vida já vem sendo consumido em um ritmo mais rápido do que ele se pode renovar.
Mais da metade dos rios está poluída com os despejos de esgotos, resíduos
industriais e agrotóxicos.
Estima-se que 30% das maiores bacias hidrográficas perderam mais da metade da
cobertura vegetal original, o que levou à redução da quantidade de água. Nove
de cada dez litrosde água utilizados no Terceiro Mundo são devolvidos à
natureza sem nenhum tipo de tratamento. Por conta dessas e outras, o conceito
de água tem mudado e muito. Passou de dádiva inesgotável e gratuita para
mercadoria, com preço de mercado conforme recomendação do Banco Mundial. Tornar
a água mais cara é uma das providências necessárias para garantir o
abastecimento no futuro. É consenso internacional e inclusive é um bem que terá
seu preço cada vez mais onerado.
Na Europa, em países como a França, a Alemanha e a Holanda, cobra-se em torno de
0,17 centavo de dólar para cada metro cúbico de água (1000 litros), sem contar
as tarifas de abastecimento e tratamento de esgoto. Nos países
industrializados, a perda a água é causada por sistemas obsoletos de
distribuição. Já nos países em desenvolvimento, o problema é a falta de esgotos
e de água encanada. A água proveniente dos lençóis freáticos está sendo usada
sem que se planeje uma exploração que leve em conta a capacidade de suporte
desse tipo de ecossistema. A captação desenfreada dessa fonte está exaurindo
sua recuperação.
Há 40 anos, poços de 30 metros eram suficientes para atingir o aqüífero de
Ogallala, um enorme depósito de água subterrâneo sob oito estados americanos.
Atualmente, é preciso que se fure pelo menos 100 metros. Assim, a indústria
encarregada de captar a água das fontes e levá-la às torneiras do consumidor
agora se preocupa em tratá-la antes que volte para a natureza. Estima-se que
ela movimenta 400 bilhões de dólares, entre empresas públicas e privadas. Isso
equivale a 40% do setor petrolífero e é 30% maior que o setor farmacêutico.
Como o petróleo hoje em dia, os recursos hídricos estão no cerne de um número
cada vez maior de tensões internacionais.
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A ONU calcula que 300 rios são objetos de
conflitos fronteiriços. No Oriente Médio, região sempre em evidência por
causa das guerras, uma séria controvérsia envolve a disputa de três países
pelo uso da água do rio Eufrates. A Turquia, onde está a cabeceira do curso
de água, ergueu várias represas para projetos de irrigação. O resultado foi a
diminuição do volume de água na Síria, que depende do rio Eufrates para
suprir metade da sua demanda, e no norte do Iraque. Um dos pontos sem acordo
entre Israel e os palestinos é o uso das reservas aqüíferas da Palestina,
hoje superexploradas pelos israelenses.
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